Determinados nutrientes podem causar alterações na farmacocinética e farmacodinâmica de algumas drogas. Ou seja, conseguem afetar a biodisponibilidade, absorção, metabolismo, excreção ou até mesmo o efeito clínico de algum fármaco. Dessa forma, essa interação pode ser benéfica, atenuando possíveis efeitos prejudiciais de um medicamento, ou maléfica, exacerbando os efeitos colaterais provindos dessa intervenção, trazendo maiores riscos de toxicidade e possibilidade de falhas no tratamento.
Por outro lado, os fármacos também podem alterar a biodisponibilidade dos nutrientes. O uso contínuo de inibidores da bomba de prótons como o Omeprazol, por exemplo, pode prejudicar a absorção intestinal da vitamina B12, levando a um quadro de anemia. Outro exemplo comum são alguns medicamentos antiepilépticos que, ao serem utilizados cronicamente, podem diminuir a concentração sérica de vitamina D. Portanto, uma conduta importante a ser tomada pelo profissional da nutrição é analisar criteriosamente o tempo de ação dos medicamentos no corpo para que a intervenção nutricional seja feita no momento oportuno e tenha maior eficácia.
A seguir são listados algumas interações entre drogas e nutrientes documentadas pela literatura:
- A tomada de Oseltamivir próximo ao consumo de leite pode intervir na absorção do antiviral, já que há competição dos peptídeos do leite pelos transportadores do medicamento (PEPT1) e também há inibição da enzima que metaboliza o Oseltamivir.
- Antibióticos da classe das celafosporinas, como o Cetfibuteno, podem ter sua absorção dificultada quando há a presença de cátions bivalentes como o Zinco. Esse mineral pode reduzir o a solubilidade do medicamento ao ligar-se com ele, além de competir com prótons importantes para o mecanismo de absorção e transporte do medicamento no intestino por PEPT1. Por outro lado, quando consumidos em um intervalo de duas horas, parece não haver interação expressiva.
- O uso do medicamento antiepilético Valproato pode reduzir os níveis plasmáticos da Carnitina, aminoácido importante para o metabolismo energético e a oxidação de ácidos graxos. Portanto, sua deficiência pode causar danos ao indivíduo desde disfunções em processos enzimáticos a altos níveis de amônia no sangue. Dessa forma, a suplementação de L-carnitina oral é eficaz para o público que utiliza o Valproato ou medicamentos antiepiléticos em associação, trazendo melhorias na gravidade dos quadros clínicos dessas pessoas em um curto espaço de tempo.
- A quitosana, um polissacarídeo não digerível pelos humanos, também pode interagir com algumas classes de fármacos. No caso do antiviral ‘Aciclovir’, há uma absorção melhorada pela administração de quitosana intraintestinal em estudos em modelos animais. Dessa forma, esse polissacarídeo age diretamente na parede intestinal melhorando as junções oclusivas e a permeabilidade da membrana celular apical, resultando em maior absorção do fármaco.
- Diversos nutrientes podem afetar a farmacocinética da Varfarina, um medicamento com potencial anticoagulante. Especialmente alguns tipos de sucos de fruta como o de toranja e cranberry possuem compostos bioativos que podem atuar inibindo diretamente enzimas que atenuam os efeitos dos fármacos no corpo, portanto podem amplificar seu potencial anticoagulante. Por outro lado, a soja e o chá verde podem reduzir a ação da varfarina, uma vez que contêm quantidades sutis de vitamina K (que possui ação coagulante) e contêm compostos que alteram a função da enzima que metaboliza o medicamento (CYP), atenuando seus efeitos.
Esse texto foi escrito por Alan Matheus (@alanmatheusnutri), baseado em artigos científicos. Todo material pode ser disponibilizado quando requerido. Se você ficou com alguma dúvida entre em contato conosco pelo e-mail: [email protected]. Respeite nosso material intelectual. Sempre que usar nossos textos, mencione o nome do autor e do site, por favor.
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